"Trilhos"
"É o leite que me intriga agora, escondido lá no fundo da geladeira, branco como minha cabeça, sem aspirações maiores do que a de se ocultar por trás da luz incandescente que me deixa de presente uma mancha cega nos olhos e me provoca mais sono.
Ninguém em casa. Sem bilhete de explicação na geladeira velha eu fico a disposição do silêncio constrangedor entre eu e a caixa de leite, me arrastando pesado pela cerâmica, como um conjunto de fotografias projetadas em seqüência pouco lógica.
Minha enteada aparece tímida entre a porta e a fruteira.
- Mas vejam só, você está aí. Pensei que estivesse sozinho, por onde anda as mulheres dessa casa? Tinha sete anos, e eu ultrapassava quatro dos vinte.
- Também num sei, acabei de acordar! Falou esfregando os olhos cheios de remela e logo torceu com o indicador a camisa do pijama.
- Senta aqui comigo e toma um copo de leite.
Veio correndo em seus próprios trilhos, fazendo-me acreditar que só naquela cozinha era possível contar vários. Uma locomotiva melhor do que qualquer “bom dia” ou noite de silêncio absoluto.
- Você coloca pra mim?
- Sim.
- Mas coloca naquela caneca que tem a vaquinha que eu só tomo leite nela.
- Sem problemas, mademoiselle.
Tarefa difícil aquela de buscar a tal caneca. Fiquei de pé pensativo olhando pro chão e ela percebendo minha angustia disse com a voz branda acomodando os pés na pantufa que se eu quisesse podia usar os seus trilhos."
Ninguém em casa. Sem bilhete de explicação na geladeira velha eu fico a disposição do silêncio constrangedor entre eu e a caixa de leite, me arrastando pesado pela cerâmica, como um conjunto de fotografias projetadas em seqüência pouco lógica.
Minha enteada aparece tímida entre a porta e a fruteira.
- Mas vejam só, você está aí. Pensei que estivesse sozinho, por onde anda as mulheres dessa casa? Tinha sete anos, e eu ultrapassava quatro dos vinte.
- Também num sei, acabei de acordar! Falou esfregando os olhos cheios de remela e logo torceu com o indicador a camisa do pijama.
- Senta aqui comigo e toma um copo de leite.
Veio correndo em seus próprios trilhos, fazendo-me acreditar que só naquela cozinha era possível contar vários. Uma locomotiva melhor do que qualquer “bom dia” ou noite de silêncio absoluto.
- Você coloca pra mim?
- Sim.
- Mas coloca naquela caneca que tem a vaquinha que eu só tomo leite nela.
- Sem problemas, mademoiselle.
Tarefa difícil aquela de buscar a tal caneca. Fiquei de pé pensativo olhando pro chão e ela percebendo minha angustia disse com a voz branda acomodando os pés na pantufa que se eu quisesse podia usar os seus trilhos."
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