segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Textando (parte 2)

Aproveitando o dia mórbido, vou reviver essa seção onde posto alguns textos meus (lembra? clique aqui e veja o meu 1º texto).
Mas hoje não vou postar algo meu, vou postar do escritor (nova guarda) Leonardo Dognani.

O Enterro

E o som macabro de uma flauta era ouvida! Tocava com paixão e horror! um som ora belo, ora macabro, incitando todo o tipo de emoção enquanto se pronunciava dentre a chuva daquele cemitério.

E lá estava o Peregrino: Olhando debaixo da chuva aquele lúgubre enterro. Poucas pessoa haviam de fato, e ao que parecia eram amigos que foram tocados pela verdade das palavras daquele cadáver quando era vivo.

As gotas caiam pesadas, reproduzindo o som de marretas no asfalto quando tocavam a grama. Desciam do céu de forma pesada, como lágrima dos anjos, como os próprios anjos caindo do céu.

Os presentes não enxergavam que entre aquela chuva, havia uma figura macabra que estava com o coração do poeta num prato enquanto tocava uma flauta feita de osso. Parecia ser a morte, ou a mãe dos versos do cadáver. A criatura se deliciava com o coração, como se fosse a mais fina especiaria do mundo, e de fato, o era. Ao que parecia, conseguiam ouvir a fantástica melodia, mas apenas o Peregrino parecia enxergar nítido aquela entidade suprema.

Ninguém usava guarda-chuva. Todos estavam vestidos de forma sóbria e elegante, como pessoas fora de sua época. Havia um padre rezando algum rito que para todos os que ali estavam não importava nada. A chuva era sentida com seu peso, mais pesadas do que as lágrimas de Deus, mais pesadas do que a revolta do Diabo. Mais pesadas do que as palavras daquele cadáver que agora estava sem o seu brilho insano de suas prosas e versos! A chuva era sentida por todos, pois elas representavam cada verso e cada prosa, com todo seu frescor e frieza, com o peso de suas palavras.
Dessa vez, até mesmo o Peregrino sentiu a chuva com todo o peso das letras, e foi a primeira vez que viu tantos poetas reunidos sob o mesmo evento: A morte de um de seus iguais.

O Som da entidade tocando sua flauta continuava por todo o enterro, e apenas o peregrino conseguiu ver a criatura medonha, que a cada mordida que dava no coração do Poeta morto, mais bela e melancólica era sua música, e sabia os poetas, que até mesmo os vermes e a morte iriam se fartar no manjar de seus corpos e espíritos, pois os poetas, têm um sabor único nesse estranho paladar.

Até mesmo os Deuses anseiam pela arte que vem da alma humana.

O Enterro do Poeta

Chora o bardo na alegria,
E o coveiro em gargalhada,
E o padre como a gralha
De obtusa nostalgia.

A carcaça jaz impura,
Com os vermes ansiosos
A devorá-lo até os ossos
Em formosa cabiúna.

Tão formosa, tão soturna
Que faz juz a sua fama,
De poeta qu’inda ama
Sua fantasia noturna.

Mas para que serve a cova
Tão sublime entre os prantos?
Seria então último canto?
Seria então úiltima prosa?

A morte – único verso!
Sem antes e sem depois,
As vezes une esses dois:
O Poeta e o Universo.

A Lenda ganha vida
mesmo escrevendo a morte,
Que no final é sua sorte,
O legado de sua sina.

Entoando aos sete ventos
Para o duro e frio corpo,
Os vermes para o morto
São invocados com lamentos.

Mesmo com podre carcaça,
E vermes a roer-lhe os ossos,
Diferente de outros corpos,
Sua alma é eternizada.

Leonardo Dognani
07/10/2008


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